domingo, 30 de novembro de 2014

Vamos brincar?

Autor: Saci Perere



Feche os olhos...

Respire...

Pense numa música...

Agora dance essa música pra mim!

Em ritmo acelerado, em ritmo lento, em gagueira, de trás pra frente, sentado e como se estivesse com pulgas, de ponta cabeça, na calçada, na fila do pão, na catraca do ônibus, dance conforme sua imaginação...

Volte aqui e me conte como foi.

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Sobre Arte,  Reuniões e Ação Cultural


Renata Casemiro 



O PIÁ (Programa de Iniciação Artística) é um programa artístico pedagógico único, com características peculiares, em constante mutação, aprofundamento, pesquisas e multiplicidade.  Não tratarei de contextualizar  ou discorrer sobre o programa. Você que me lê, se já não  o conhece,  pode ler em vários outros ensaios, nos textos da revista Piapuru, além de imagens e vídeos tanto no Facebook quanto em Youtube mais sobre o PIÁ.

Minha intenção é ser breve e  sugerir  com base na minha inquietação e experimentações artísticas e socioculturais no devido programa e em outros projetos artísticos pedagógicos a possibilidade de  escolhas para cada equipe o formato de reunião artístico pedagógica e sugerir a completa mudança de formato de reunião de coordenadores, que acontecia frequentemente de modo formal com os coordenadores sentados em cadeiras em volta de uma mesa.
 

Antes, porém, escrevo sobre minha poética artístico pedagógica: sou improvisadora, sendo assim observo, imagino, tento fluir, fazer fluir ou provocar. Acredito que as pessoas (bichos, plantas, etc.) tem um vasto conhecimento, sabedoria e o poder de conexão para  construir, criar, recriar. Acredito nisso, então  acho que minha função é favorecer o meio, o espaço para que isso se dê.

Como improvisadora, sou oportunista. Me aproprio do que me convém. Mudo sem apego ou posso seguir com um ideia ou intenção com maior ou menor intensidade, além de poder dilatar o tempo. Não preparo aulas de modo formal, porém me preparo no dia-a-dia, observando, lendo, imaginando e articulando para a experiência (com a seleção de materiais e experiências a serem propostas) e praticando. Nunca dei uma aula igual de arte, pois só consigo partir do encontro com o outro (pessoa/espaço) e daí seguir com minha percepção e intuição.

Penso que em aula/processos artísticos, você tem o inicio, mas não sabe o meio e muito menos o fim. Isso me diverte, me agrada muito: o inimaginável. Essa curiosidade. Então acho que a mesma aula é burra! Não dá pra ser a mesma, se você tem escuta, você já está diferente a sua turma é ou está diferente e o espaço-tempo já foi modificado.
Ainda, como ser humano devemos ter surpresas todos os dias, nos surpreender, pelo menos uma vez ao dia, isso é estar vivo. E o professor tem que ter no mínimo três surpresas, pois tem que ter esse espaço na sua aula, ser surpreendido pelo outro.

Como coordenadora nesse ano no Piá, eu tento aplicar o que me agradou e acho que funcionou nos anos em que fui coordenada em varias projetos e por em pratica o que acredito. Então eu realmente acredito que uma das funções do Artista Educador Coordenador seja "garantir o espaço investigativo sobre os processos criativos de sua equipe".

E como fazer isso? Liberdade para Ação Cultural, Proposições e Experimentações Artísticas. Essa liberdade confere os processos criativos sempre vivos.

Cada equipe atuante em um equipamento conta com três artistas educadores e um coordenador também artista educador.  Cada quatro equipes conta com um coordenador regional. E todos os coordenadores contam com dois coordenadores de Formação.

A principio temos semanalmente 3 horas para reuniões de equipe e 3 horas para reuniões de coordenação.

Sugiro que para potencialização do fazer artístico interlinguagens,  para afinar as parcerias, para alimentar a arte, a escuta, a sensibilidade, a parceria e nos enriquecermos enquanto pessoas e artistas, façamos Ação Cultural ao invés de reuniões formais.

Para reuniões de equipe sugiro que a dinâmica da Ação Cultural no espaço-tempo de Reunião seja  encabeçada cada vez por um artista, ficando ele responsável pela proposta e necessidades da mesma., bem como definir o público, pois  pode ao seu propósito, experimento  e objetivo abrir para outros públicos.  Dimensionando as horas,  sugiro 1 hora semanal para informes do DEC, do Programa e do Equipamento e para Ação Cultural 2 horas. Ainda, se for pertinente e de comum acordo com a equipe a Ação Cultural pode ir para além do horário de reuniões, pode ser acumulada em uma Ação Cultural de maior porte, exemplifico no caso as ações feitas pela equipe do PIÁ do CFCCT feitas em 2014: Brunilda, Feira Grátis de Gratidão, Sarau, Exposição de Experimentações Mirabolantes do PIÁ, Encontro com Pais e Piazitos e Oficinas de Stop Motion I e II. Além de participarmos da Semana da EMIA e Fórum Tempos e Espaços no CCSP.

Para reuniões de coordenadores sugiro o mesmo esquema de 1 hora para informes do DEC,  do Programa ou  cases. E 2 horas para Ação Cultural ou Práticas Artísticas, sempre dirigida ou iniciada por um Artista do PIÁ, esse acordo dever ser combinado anteriormente e todos devem orientar no mínimo uma vez e isso deve ser rodiziado. Ainda, o grupo poderá ser dividido se assim for pertinente e cada grupo seguir com um Artista propondo a efetiva Ação. Cada artista fica responsável por dimensionar o formato de uso de horas, para prática, escrita, leitura e  se quiser troca entre as pessoas após a experiência, isso dentro do horário de 2h.

Vejo que muito das experimentações do PIÁ vem do encontro dos piazitos e dupla de Artistas Educadores. Então acho de suma importância praticar a improvisação! E como praticar a improvisação?  Uma das formas é seguir a proposta do outro. Tendo um começo, porém ser saber o meio e o fim. A proposta do outro pode afinar nossas percepções, nos instigar, ampliar e dar vazão a nossa imaginação, nos fazer refletir e ainda nos modificar. Acho importante praticar a abertura, a escuta, surpreender e se permitir ser surpreendido, enveredando pelo desconhecido do outro. Assim podemos aprender a confiar no desconhecido, com os sucessos e insucessos! Mas confiantes que temos espaço de novas tentativas e proposições.

É  muito bela a transformação oriunda da prática. Ela aproxima os corpos, as almas e acabamos por ter descobertas e mais afinidades, é ótimo conhecer o artista pelo fazer artístico. Conhecer o outro em sua arte e cultura, essa troca permite o respeito e diminui fronteiras acredito eu.  Ora e quem gosta de  ler, debater ou nada disso? Bom na sua proposta de ação/arte poderá propor isso para todos.

Acho que o PIÁ tem maturidade o suficiente para experimentar essa proposta de inovação artística rearranjando os horários de reuniões. Acredito ainda que todos tem a ganhar, os artistas, o Programa, os Piazitos e  a comunidade. Além da alegria de trabalhar que nos move, poderemos aprender, crescer e por em risco nossos saberes e inquietações, além de melhorar nossa escuta e pedagogia.

Ensaio Pesquisa Ação - 2014
Sobre Arte, Reuniões e Ação Cultural
  
Renata Casemiro é Mãe, Dançarina e Improvisadora. Pesquisa Jogos, Artes Orientais, Fotografia e Vídeo Dança.  É Pós-Graduada em Dança, Faixa Preta de Aikido pela Aikikai de Tokio,  formada em Pilates e Yogalates. Dirigiu e criou espetáculos e videosdança, tendo vídeos selecionados para o Dança em Foco e MIS – Museu da Imagem e do Som. Desde 2003 trabalha em projetos da Emia, Dança Vocacional e PIÁ, como Artista Orientadora  e Educadora e Coordenadora Artístico Pedagógica pelas Secretarias Municipais de Cultura de Santo André e São Paulo. Foi Artista Educadora do PIÁ em 2013 e Coordenadora Artístico Pedagógica de Equipe e Artista Educadora em 2014 no Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes (CFCCT)



Sites:
https://feiragratidaopiah.wordpress.com



Facebook:


Livros de cabeceira em 2014:
Criatividade e processos de Criação
Fayga Ostrower

O que é Ação Cultural?
Teixeira Coelho

Videos:
Oficina de Stop Motion I e II













AE: Ser ou não ser social? - Tatiana Eivazian (teatro)


AE: Tatiana Eivazian – teatro
Equipamento: CEU Jardim Paulistano



Introdução
Este ensaio de pesquisa-ação é na verdade um relato, cujo mote partiu da confluência entre o tema descrito no título, surgido durante as reuniões gerais de AEs e coordenadores do programa, e a prática artística realizada junto aos jovens do CEU Jardim Paulistano. Aqui, não se pretende provar tese, mas sim investigar e tentar se aproximar de uma maior compreensão do complexo papel que exerce o AE, e talvez, sim, lançar um outro olhar sobre o famigerado e diversas vezes polêmico “social”. Explico.

Em diversas reuniões gerais com AEs e coordenadores, quando colocadas as funções e atividades artístico-pedagógicas, foi-se afirmando uma ideia de que o AE podia ser tudo, menos “social”. Diversas questões desdobram-se a partir daí. Mas o que é, de fato, assumir um papel social? O que define ser social ou não? Dá pra empreender procedimentos artísticos ao mesmo tempo em que se assume essa função social? Ser artístico e ser social são coisas díspares, opostas? Afinal, quem foi que separou arte da sociedade?

Argumento instaurado, o “social” tomou uma proporção pejorativa. A impressão é de que se confundiu o conceito desse papel social com o conceito de assistencialismo, caridade. Fiquei também com a impressão de que aqueles AEs, mal sabiam eles, exercem sim um papel social no momento do encontro com os pias.

Acredito que um AE, antes de se pretender “artista”, precisa estar impregnado pelo verbo compreender. Compreender o contexto em que seu equipamento está inserido. Compreender o conjunto de energias de cada turma, tanto o todo quanto as partes. E para compreender, é preciso ter escuta, ouvir. Para ouvir, é preciso dar-se ao Tempo e dilatar-se, abrindo espaços internos para permitir que algo externo te invada. É estar lá mais para o outro do que para si. A plena realização desses verbos todos já é um ato social. Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim, fato social consiste num modo "de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo". Isso quer dizer que uma ação ou pensamento com objetivos não individualistas, com sentido externo a si, já é uma ação social. E sabemos, não é uma tarefa fácil. Não é fácil deixar-se de lado e ir em direção ao universo do outro. Dilemas morais à parte, um AE deve empreender esse “fato social” não em nome de um ‘bom-mocismo’, ou cheio de ‘coitadismos’, mas, justamente, para melhor fruição de suas propostas artísticas em cada turma. Creio que seja essa a direção que deve acontecer a experiência dos encontros: as questões e necessidades que estão pulsantes naquele contexto são captados pelo AE, que com sua sensibilidade e bagagem propõe um certo procedimento artístico que crê potente àquele momento específico.
Minha experiência como AE se deu dentro desse olhar. Ao chegar no CEU Jardim Paulistano, estava tomada pelo verbo compreender. Compreender aquela comunidade por números, compreender o funcionamento do CEU, compreender sua gestão, compreender os alunos, compreender suas realidades, anseios, referências, subjetividades.  A seguir, relato três momentos de encontros no PIÁ em que, espero, deu-se o cruzamento entre artístico-pedagógico, artístico-social e social-pedagógico. 



Primeiras experiências
Dada a primeira impressão, uma das primeiras práticas proposta à equipe foi usar elementos poéticos da abstração (como linguagem e estética). Essa escolha veio exatamente de uma necessidade surgida nos primeiros encontros com as crianças de 8 a 10 anos, que soltavam frases como “meu desenho é feio/torto”, “não sei/consigo desenhar direito”, entre outras. Já é sabido que isso apenas reflete o meio educacional/familiar em que vivem, o qual ou não se tem contato com arte, ou se propaga uma ideia limitada de que arte deva ser imitação/interpretação/representação perfeita da vida/realidade. Essa questão nos inspirou a trabalhar com a experimentação e valorização das subjetividades através das artes plásticas, para apresentar outras vias de percepção estética que não fossem a naturalista ou a realista.
Sendo assim, escolheu-se a obra e a vida do pintor russo Wassily Kandinsky. Creio ser de suma importância levar referência artística para não só ampliar o universo cultural das crianças, mas para que elas se inspirem e se espelhem na vida e obra de vários artistas de diferentes linguagens, e possam vivenciar um pouco do seu universo. E talvez para mim o mais importante é que percebam que um artista, invariavelmente, parte de sua realidade para criar sua obra.





Boal e “aconteceu com você”
Nessa mesma linha de pensamento, para as turmas mais crescidas, de 11 a 14, lancei mão do bom e velho Boal, aproveitando que a “pegada” daqueles adolescentes era claramente teatral. O jogo do ‘Eu protesto’ (que consiste simplesmente protestar a favor ou contra qualquer coisa que seja importante a alguém) fez com que eles quisessem deixar registrado em escrita algumas de suas histórias pessoais. Com essas histórias, propôs-se propositadamente outro exercício, de teatro narrativo, ‘aconteceu com você’ (A lê uma história de X, e a conta em primeira pessoa, como se tivesse acontecido com a A). O propósito foi justamente porque essa turma tinha uma questão latente: um grupinho de meninas que isolavam outra menina e, ao que tudo indicava, eram dissimuladamente hostis com a garota. Sem precisar armar rodas e rodas de conversas falando sobre a importância de lutar contra o bullying, o exercício de “ser outra pessoa”, assumindo a história dela como a sua, e ver sua história criando forma e assistir e ouvi-la como se ela não fosse sua, foi um divisor de águas naquela turma. E só foi potente porque aquele contexto específico foi quem praticamente demandou uma experiência teatral de espectador de sua própria história. Os alunos passaram a transitar entre o sujeito e o objeto tanto como espectador, quanto como obra. Essa experimentação, que deu-se durante vários encontros, faz desaparecer a diferença entre objetividade e subjetividade, e não só aproximou os jovens e harmonizou a turma, como, na sua repetição, lançou um olhar de forma restrospectiva e crítica para os caminhos percorridos.  “A interpretação de uma obra se aproxima da invenção, o espectador produz a partir de algo que lhe acontece” (Flávio Desgranges).
   










Cidades dos sonhos possíveis/ cidades possíveis dos sonhos

As Cidades e o Céu  5
Cada mudança implica uma cadeia de outras mudanças, tanto em Ândria como nas estrelas: as cidades e o céu nunca permanecem iguais
- Ítalo Calvino

Quando discutíamos sobre a questão do “pertencimento” (um dos princípios do PIÁ) nas reuniões de equipe, pensamos em talvez levar a própria descrição do conceito aos alunos de 11 a 14 (Pertencimento: acesso à cultura e aos espaços públicos, com base no direito a fruição dos bens simbólicos e a participação ativa da comunidade interessada), perguntando o quanto os termos ‘direito aos bens simbólicos’ e ‘participação ativa da comunidade’ lhes fazia sentido. O quanto eles entendiam que o CEU era um espaço de cultura aberto a eles e que poderia e deveria também ser um espaço de produção e manifestação artística, assim como a comunidade em que eles habitam, assim como a cidade em que eles habitam.  A essa altura do ano, esse tema já era um desdobramento do desdobramento daquilo que começou com o “aconteceu com você”. No fundo, ainda estávamos falando e nos aprofundando sobre o mundo sendo algo “passível de análise e de transformação”, como diz a máxima freireana.

Pensando nisso, trouxemos a eles duas referências: o livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, imagens das obras do artista plástico inglês Banksy nos muros londrinos. Pedimos que eles, assim como Marco Polo no livro acima citado, assumissem o olhar de viajantes. Um olhar viciado, dotado de frescor, pois tudo lhe é novo. Pedimos que andassem pelos CEU e arredores, procurar por signos e símbolos do lugar e depois, em outro encontro, reinventar esses lugares a seu modo, montando uma cena. Um exercício de reconstruções.

Na semana seguinte, depois de escreverem como seria a cidade ideal de cada um, sintetizaram suas histórias em tamanho haikai. Fizemos stencils em papel kraft de cada haikai e saímos pichando os muros do CEU. Um exercício de intervenção urbana.


“Prô, agora toda vez que entro no CEU, vejo que aquele muro
é um pouco meu e parece que as pessoas quando olham pra
ele tão olhando pra mim.”
  "Dá vontade de fazer 'intervenção urbana' em todo lugar que eu vou"





Não há conclusão
Não há tese, não há conclusões. Não há respostas. Apenas a vontade de deixar registrada a minha escolha que, já que o título propôs ficar entre o ser e o não ser, é ser. Por acreditar que o homem produz as mais belas obras de arte  quanto se relaciona com seu ambiente natural e dialoga com a sociedade.


Brevíssima autobiografia
Aqui creio que cabe algumas breves palavras sobre meu trabalho artístico extra PIÁ. Venho de uma formação teatral, que se traduz na prática do meu grupo de teatro, em que acredita na formação de artista cidadão, que pode e deve se inspirar em utilizar contextos de sua própria realidade e da realidade do entorno/comunidade em que vive. Há seis anos, meu grupo de teatro (Grupo Arte Simples de Teatro) realiza residência artística na comunidade de Heliópolis, e essa residência consiste em pesquisa artística aliada a oficinas teatrais para crianças e jovens. Não é trabalho assistencialista. Não é caridade. É artístico, e é evidente que disso decorrem conseqüências sociais. Ao chegar no PIÁ, encontrei uma equipe que, assim como eu, era toda composta de AEs de “primeira viagem” e que, assim como eu, também vinha de trabalhos prévios em comunidade e a valorização de contextos e manifestações locais. Nada é por acaso.



Algumas referências que serviram de inspiração durante o ano e para este ensaio:
 – DESGRANGES, Flávio – Pedagogia do Teatro: Provocação e Dialogismo. Hucitec, 2006;
- CALVINO, Ítalo – As Cidades Invisíveis. Companhia das Letras, 2ª edição 2012.
- FISCHER, Ernst – A Necessidade da Arte
- BLOOM, Harold – Shakespeare, a Invenção do Humano
- STEVENS, John O. – Tornar-se presente- experimentos de crescimentoem gestalt- terapia

Omar, as letras quebradas e outras formas de expressão

Queridos e queridas artistas-educadores
Segue no link abaixo meu ensaio do PIÁ 2014 para download.
http://www.mediafire.com/view/z3x7iz0bbu6x4dg/Ensaio_PiÁ_FernandoSiviero.pdf

O Ensaio fala da descoberta de um PIÁzito analfabeto no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e algumas reflexões a partir desse caso.

Um beijo no coração de todos,
Fernando

BRINCAR DE PIÁ

                                                                                                                        PIÁ 2014 
                                                                                                                  CEU São Mateus 
                                                                                           Arte Educadora: Silvana de Jesus Santos 

BRINCAR DE PIÁ


       O que é o PIÁ? 
     Poderíamos explicar as siglas, dizer que é um trabalho com crianças utilizando as linguagens artísticas, mas é só isso? O PIÁ vai muito além, podemos pensar em vários processos e formas para descreve- lo, basta apenas querer: querer ouvir, escutar, dialogar, trocar, enfim estar disponível, e aqui nos colocamos nesta disposição. A atenção e observação escolhida neste ano foram para A Voz e Corpo do Brincar. Brincar este que está enraizado no fazer artístico dessas crianças. 
     No PIÁ a música, dança, artes visuais e teatro são ferramentas artísticas que viabilizam a brincadeira. Eles pintam o sete, dançam a cadeira, cantam o silencio e encenam o faz de conta. Tudo é diversão, ou seja, é a maneira prazerosa de aprender ou fazer algo. Por esse motivo, escolhemos a brincadeira como pesquisa de um corpo que brinca. 
      A brincadeira pode ser definida como um aprendizado cultural que se expressa de diversas formas. Brincar desperta aquilo que está adormecido em nós, a criatividade, sentimentos, potencializa o nosso eu e o eu com os outros, determina limites e nos dá liberdade, autonomia, possibilita ser aquilo que almejamos e queremos, nos teletransporta para um mundo que não está aqui, criamos o nosso próprio mundo. A brincadeira e o PIÁ são uma coisa só, um caldeirão de possibilidades. 
         Segundo Natali Alves e Juliana de Alcântara, 2014:                                                                                “ Brincadeira é coisa séria, pois brincando, a criança se expressa, interage, aprende a lidar com o mundo que a cerca e forma sua personalidade, recria situações do cotidiano se expressa; desta maneira percebe-se a importância do brincar como forma da criança expressar-se e desenvolver suas habilidades de criação, de relacionar-se e de interagir “ .
        Quando as crianças nascem brincam de sorrir para as pessoas na tentativa de “ estabelecer um vinculo “, brincam com o seu próprio corpo, limites, insiste, repete até conseguirem se libertar, logo começam a explorar os espaços e brincar com os objetos. Qualquer coisa vira um brinquedo. E a partir daí: imaginação, fantasia, o mundo encantado ou desencantado, criação e experimentação. Seguindo a vida, descobre e entende que não está só e o outro é interessante, passa a brincar com os novos amigos, casinha, castelo, pega pega, esconde esconde, mãe da rua, brincadeiras de rodas, cantadas, dançadas e encenadas, e agora, não precisamos dar asas para voarem, eles já são os pássaros, os peixes, os professores, os pais e as mães, precisamos apenas observar, dar razão e entender que o brincar é a sua forma de aprender e lidar com o mundo. 
          E onde está o PIÁ? Está conectado com tudo isso, o PIÁ potencializa, cria, proporciona espaço e possibilidades para que a brincadeira e as linguagens artísticas estejam presentes nesta infância, trocando experiência e saberes, concretizando aquilo que chamamos de ensino e aprendizagem. Portanto, pode-se concluir que a brincadeira auxilia o desenvolvimento da criança de forma tão intensa e marcante que a criança leva todo o conhecimento adquirido nesta fase para o resto de sua vida. 
       Enfatizando a importância da brincadeira para as crianças, dedicamos nossa pesquisa nas diversas formas de brincar que as crianças compartilharam no PIÁ e materializamos essas brincadeiras num contorno corporal de um piazinho. Nele é indicado a brincadeira correspondente a cada parte do corpo, assim podemos escolher a brincadeira mais interessante para cada momento, contribuindo para o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças.  
      “ Se você entende o desenvolvimento motor das crianças, você entende a adolescência e a vida adulta das pessoas “.      David Gallahue
  Agradecimentos: Gostaria de dedicar esta pesquisa e agradecer a todos os educandos do PIÁ e aos meus parceiros do dia – a – dia que contribuíram de forma significativa nesse fazer artístico. Em especial gostaria de agradecer ao Gustavo Dornellas Vital que contribuiu o tempo todo, dando opiniões e emprestando o seu corpo para ser desenhado. Agradeço ainda, a Cintia Ribeiro Abrantes, Daniele de Jesus e Vinicios Silva por contribuírem para a finalização deste trabalho. Fica aqui a minha gratidão a todos. Obrigada.

Amor + União + Trabalho + Dedicação + Emancipação Artística + Autonomia = Realização e Concretização

                                                                                                             Ensaio PIÁ 2014
Equipamento: Centro Cultural da Penha
Linguagem: Teatro
Artista Educadora: Tatiane Lustoza


Amor + União + Trabalho + Dedicação + Emancipação Artística + Autonomia
=
Realização e Concretização


      Quando tive conhecimento sobre as diretrizes do PIÁ, senti na hora que o trabalho que desenvolvo na Trupe Sinhá Zózima, poderia contribuir de alguma forma para o programa.
Iniciei as atividades sem muitas expectativas sobre o resultado final, porque o que importava era se divertir durante o processo.
Na primeira aula com os adolescentes da turma de 11-14 (anos) do PIÁ, eles disseram que queriam fazer uma peça teatral. Logo percebi que era necessário estabelecer um diálogo franco e sincero para entender melhor essa adolescência cibernética e como despertar um real interesse deles pelo processo artístico que é algo totalmente artesanal e que não dá resultado imediato como eles estão acostumados.
        Certo dia, pedi para eles contarem algo interessante de suas vidas e todos responderam que a vida não tinha nada de interessante, e que muitas vezes era chata e que se pudessem, gostariam trocar de vida e ser outra pessoa. Essa informação me deixou intrigada.
À partir disso decidi propor o seguinte exercício: que cada um levasse um elemento de cada um dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão) que tivesse alguma importância em suas vidas e era necessário que cada um explicasse sobre a sua escolha.
     No dia de apresentar os materiais, ocorreu algo fantástico porque expuseram seus medos, angústias, alegrias e sonhos de uma maneira tão verdadeira, pura e poética que compreenderam a importância daquele momento e daquela vivência.
Após encerrar essa etapa, pedi que escrevessem sobre a experiência. Para a minha surpresa e da Paula Barison (artista educadora de música), eles escreveram textos belíssimos e um deles quero compartilhar com vocês.


À VIDA

Quem diria que uma “menina perfeita”
Com saúde e educação,
Teria alguma tristeza
Em seu coração.
A alegria
também existe,
Mas a agonia
sempre insiste.
Com uma palavra consigo dizer
“ o que é vida”?
É simplesmente
uma corrida,
E nela temos que ter
Muita força e felicidade
Para encarar
Essa difícil sociedade.
Mas não devemos
Ter pena dessas pessoas.
Encare isso como uma cena,
E nessa cena,
Todos somos os atores,
Que vivem uma peça
Cheia de cores.
Uma vida colorida,
Sem pensar no que ser,
Sem ser uma vida linda,
Só precisando saber viver.

Pois é assim que somos
Pelo menos para mim.
Por isso que crescemos.
Porque o ato de crescer
É saber viver,
Sempre amadurecer
E entender.
Mesmo sendo uma grande menina
Muita gente
Acha que sou pequenina
Para entender o que a sociedade sente,
Mas todos estão enganados
Sobre esses fatos,
Eu sou a única que sei
Porque sou eu que controlo meus atos.
E para mostrar que gosto da minha vida,
Fiz essa poesia
Para demonstrar a minha alegria!

Autora: Giovanna Monteiro Ciampone –12 anos -  18/06/2014

        Após ler esse texto e vários outros, reconhecemos que aquele material tinha um grande potencial artístico e dialogamos com a turma sobre a possibilidade de escreverem o texto do espetáculo. Todos ficaram muito entusiasmados com a ideia e à partir daí iniciaram o processo de construção do texto.
Quando o texto ficou pronto a turma percebeu que o espetáculo teria custos como cenário, figurino, adereços etc. e vieram nos questionar de onde viriam os recursos para a realização da peça. Nesse momento explicamos que tínhamos que resolver a situação de forma criativa, porque não existe verba destinada para isso. Para tentarmos resolver essa situação, perguntei o que elas sabiam fazer.                   Algumas disseram que sabiam fazer trufas de chocolate, outras sabonetes caseiros, caixinhas decoradas, algumas se diziam excelentes vendedoras, enfim... tinham muitas habilidades que poderiam contribuir para angariar verba para realizar o trabalho. Para iniciarem as atividades, eles pediram para os pais emprestarem uma pequena quantia de dinheiro que seria devolvida assim que os produtos fossem vendidos (o empréstimo não era obrigatório) e conseguiram R$ 120,00 (cento e vinte reais). À partir daí, confeccionaram os produtos e foram divididos em 2 (dois) grupos para iniciar o processo de vendas nos comércios da região com a supervisão das AEs. Para não prejudicar o processo artístico, as vendas ocorreram em 2 (dois) dias, sendo disponibilizado apenas 1 (uma) hora. E os outros dias venderam para parentes e amigos fora do horário do PIÁ. Em 7 dias de trabalho arrecadaram R$ 1.000,00 (mil reais). Com esse dinheiro foi possível comprar figurinos, adereços cênicos, alugar equipamento de som etc.
     O fato de terem feito esse esforço, fez com que olhassem para o trabalho de uma maneira diferente, fez com que valorizassem cada encontro e dessem o seu melhor para a realização da peça. A união e valorização do grupo, a autoestima, o sentimento de capacidade e de pertencimento com o trabalho se tornou grandioso e precioso.
Na reta final do processo, fizemos um ensaio aberto para os pais. Muitos ficaram surpresos pelo fato dos filhos se dispuserem a encenar, escrever a peça e a música do espetáculo. Vários pais deram sugestões incríveis para melhorar o trabalho e foi maravilhoso ver a alegria deles por ter a oportunidade de estabelecer um diálogo artístico com os seus filhos. Nesse momento percebi que o PIÁ transcendeu a estrutura arquitetônica do CCP e permitiu que essas famílias vivessem algo realmente especial.
      Com esse trabalho, sinto que plantamos uma semente para eles compreenderem os mecanismos para a realização de uma ação cultural e que mesmo com todas as limitações é possível o artista existir, criar e realizar seus trabalhos. Também perceberam que a união do grupo é uma força decisiva para a concretização de qualquer trabalho e que a arte é uma ferramenta genuína de expressão e que pode e deve ser utilizada por todos.